Por: Antonieta Costa*
Uma faixa de terreno apinhada de Menhires e medindo c. 3km x 1km atravessa o plateau da Serra do Cume, na Ilha Terceira na direção NNW para SEE.
Entre a grande abundância de “sinais estranhos” de natureza exótica presentes na Ilha Terceira, os Menhires são dos mais notáveis.
Identificados como tal por comparação com rochas Europeias análogas (rochas triangulares ou retangulares medindo 1m de aresta, mas indo aos 2 e 3 metros) diferenciam-se dos continentais por serem de origem vulcânica: Traquítica, de cor clara quase branca, distinta dos usuais materiais vulcânicos.
Em geral a sua superfície contém diversos tipos de inscrições, algumas possíveis de identificar como letras e outras desenhos – mas raramente a figura humana: pássaros, repteis ou também criaturas marinhas.
Muitos destes Menhires estão agora incorporados nas paredes dos campos do planalto, ou então caídos por terra, especialmente os maiores, ao longo das paredes dos 3 km da faixa de terreno
Um inventário (constante de número de peças por parede) já indexou 5140 (usando o modelo presente na foto), deixando atrás (ainda não registados) cerca de 1/6 da área, calculada em c.1000.
Não existe na Ilha qualquer outro sítio com rochas deste tipo nem nas outras Ilhas dos Açores, o que levanta questões como: quando foram construídas e por quem? Considerando que a forma natural destas rochas (na fase de lava) é arredondada, o trabalho de as modificar para a atual forma de “estela” é impossível de calcular. A Wikipedia define “Estela” como “… uma peça de rocha ou madeira, geralmente mais alta que larga, erigida pelo mundo antigo como monumento. A sua superfície comummente tem texto, ornamentações, ou por vezes ambos, que podem ser gravados em relevo ou pintados. As Estelas eram criadas por muitos motivos. Quando gravadas eram usadas para uso funerário ou comemorativo” …/… “Estelas eram também usadas para publicar leis e decretos, para registar conquistas e honras dos senhores, para marcar territórios sagrados ou propriedades hipotecadas, como marcas de território, como as fronteiras de Akhenaton em Amarna, ou comemorando vitórias militares. Eram muito usadas na Mesopotamia, Grécia, Egipto, Somália.”
Tendo em consideração a importância do papel desempenhado por estas pedras na leitura da paisagem, encontrá-las na Terceira, não apenas em número inconcebível mas também “incógnitas”, ou ignoradas por todos, população e autoridades, transforma-se num mistério. A sua existência aponta para presença humana ativa, fora de dúvidas, antes do povoamento Português. A natureza e o implícito volume de trabalho assim como a cultura e o paradigma histórico do século XVI contradizem a autoria Portuguesa.
Felizmente, a sua observação é possível quer andando ao longo das paredes quer passando de carro pelas estradas do Planalto da Serreta, onde se encontram incorporadas nos muros ao longo destas, facilitando a apreciação das estranhas formas triangulares e retangulares das grandes rochas. (mapa).
Descrição (quer oficial quer comum) destes monumentos é inexistente. Considerando que a Carta Militar de 1841 dá detalhada informação acerca dos terrenos circundantes e que não refere esta importante secção (a dos Menhires) como é possível conferir no único espaço deixado em branco na área dentro da Cratera, enquanto que os campos à volta estão desenhados em detalhe (paredes).
Provavelmente a condição estática em que a situação se mantém deve-se à falta de capacidade em descodificar as supostas mensagens e expressões desconhecidas presentes em forma de “inscrições” nos Menhires. Em acréscimo, a situação de isolamento geográfico aumenta o mistério e provavelmente o silêncio à volta: nunca foram referidos oficialmente, nem mesmo a mencionar o árduo trabalho dispendido na inclusão das enormes rochas nas paredes dos campos, por vezes em terrenos muito inclinados.
O absurdo da situação tem auxiliado na manutenção do seu sigilo: como explicar atividades tão dissipadoras de tempo e empenho em objetos sem aparente valor ou sentido – tanto no presente como no século XV? Ou ainda – exigindo enorme esforço físico no manuseamento dos pesados monólitos sem aparente razão nem benefício como resultado, assim como acontecendo em isolamento de continentes ou áreas povoadas. Seria, de certeza, uma ocupação estranha para recém chegados no século XV – especialmente sem obtenção de benefícios.
Presentemente, transformaram-se em testemunhos ideais na conexão com um passado (ainda desconhecido).
*Antonieta Costa
Bachelor of Arts in Sociology, University of Maryland, 1983
Master in Public Administration, Organization Sociology,Troy State U., 1986
Ph.D. Social Psychology, ISCTE Lisbon 1998
Post/doc in Anthropology of Space and Landscape, Porto University, 2017
Researcher (Integrated) from CITCEM, Porto University.
Now studding the Cultural Rupestrial landscapes of Terceira Island, Azores